Menos Shein, mais juros: Os 4 motivos que fizeram a Renner (LREN3) subir 6% após o lucro cair 76%
A Renner (LREN3) divulgou ontem a noite um resultado fraco como já era amplamente esperado, com lucro e Ebitda menores do que no 1T22 em 76% e 34%, respectivamente.
O crescimento de receita liquida total, de 6%, foi baixo, e a culpa foi tanto do Brasil como da empresa na minha opinião - não vamos culpar só a economia por aqui.
Além dos juros, preços altos e endividamento das famílias em patamares recordes inibirem as vendas, e da inadimplência corroer o resultado da operação financeira...
Ocorreu um erro estratégico da empresa, que não combinou bem com São Pedro.
O primeiro trimestre foi quente, e o calor acima do esperado não ornou com uma coleção de inverno antecipada.
A Renner decidiu reduzir a coleção de meia estação e antecipar a de inverno.
Resultado: A falta dos produtos de meia estação prejudicou as vendas, ainda mais com o calor maior que o normal no 1T23.
Agora que já falei quais são os maiores problemas do 1T23, vamos aos prometidos motivos da alta (na minha análise)
Os motivos da alta forte nas ações hoje, na minha opinião, e minha recomendação de investimentos para a ação:
Motivo1: Shein não foi tão detratora como muitos temiam
Um dos maiores medos hoje em dia para o case da Renner é a competição intensa da Shein, plataforma chinesa que vem revolucionando o mercado com produtos “bons” e baratos.
Porém, o que o resultado mostrou é que o varejo de vestuário não foi tão mal e, muito provavelmente, se não fosse o macro tão ruim (com Selic a 14%) e um erro de coleção antecipada de inverno, veríamos a Renner brilhar como de costume.
O que realmente foi mal em termos de vendas foi a Camicado caindo 15%, com o fechamento de 13 lojas para adequação do negócio.
Verdade seja dita, a Camicado nunca teve um desempenho brilhante como a operação core da Renner, desde que comprada pela cia.
O segmento de casa e decoração vem penando no Brasil e está mais impactado do que o vestuário, mesmo sem a concorrência tão óbvia que é a Shein para roupas, basta ver os desempenhos e Mobly (MBLY3) Westwing (WEST3) e Quero-Quero (LJQQ3)...
Ainda olhando os negócios, a marca jovem Youcom continua com crescimento acima do varejo e deve continuar no foco das novas aberturas de lojas .
Motivo 2: Margens do varejo seguem fortes e devem subir segundo as projeções da empresa
Ainda no âmbito da concorrência com a Shein, o que pode obrigar a empresa a baixar preços, o que vimos foi uma margem bruta do varejo saudável e que afasta os maiores receios quanto a concorrência.
A margem bruta do varejo foi de 54,2% uma pequena queda frente ao 1T22, mas ainda bastante forte.
Além disso, a empresa mencionou que deve se beneficiar da redução dos custos de matéria prima e valorização do real frente ao dólar nos próximos meses.
Por fim e muito importante, nas projeções passadas pela empresa, as margens sobem nos próximos anos, com ganhos de eficiência e menores custos logísticos.
Motivo 3: Consumiu caixa sim, mas comprou ações também!
A geração de caixa da Renner foi negativa em R$ 218 milhões, ainda que melhor versus o ano anterior por conta de melhora no capital de giro e recebíveis.
A empresa teve um consumo de caixa líquido de quase R$600 milhões, mas o alento é que cerca da metade usada em recompras de ações, o que em teoria mostra a confiança da empresa no negócio e uma sinalização de preço baixo da ação.
Motivo 4: Este eu vou deixar para o final do relatório, JUNTO COM MINHA RECOMENDAÇÃO DE INVESTIMENTOS
Para ficar de olho: Os riscos no radar
Para ficar de olho 1: Operação financeira sofrendo com a inadimplência do brasileiro, mas com perspectivas melhores
Neste país da manchete abaixo, é de se esperar que a inadimplência subisse:
Nesse cenário complicado, as despesas financeiras da Renner ficaram maiores e a empresa registrou alta de 107% nas perdas em crédito, o que levou a um resultado negativo da operação de crédito.
Fica fácil ver pelo gráfico abaixo como as perdas subiram de 3,5% para 5,6% no trimestre – lembrando que dados mostram que 70 MILHÕES de brasileiros estão inadimplentes
A parte menos ruim aqui é que a empresa falou que as novas safras de crédito estão melhores
De olho na questão do ICMS
A Renner até deu lucro no 1T23, mas beneficiada por alguns benefícios fiscais que como todos sabemos estão na mira do governo.
Sem tais benefícios, o 1T22 teria prejuizo.
Perspectivas animadoras
O CFO da companhia, Daniel Santos, informou que espera crescimento das receitas no 2S23 e que as margens devem melhorar em relação a 2022.
No quadro abaixo, temos as projeções da Renner, que espera uma redução no custo logístico, e ressaltou muito no Renner Day as melhorias de eficiência com seus modernos e novos Centros de Distribuição (CDs).
O novo centro de distribuição de Cabreúva está em ramp-up operacional e por enquanto a Renner está com redundância na operação.
Os CDs atualmente estão gerando despesas extras, mas no longo prazo estas despesas se converterão em mais eficiência e menos gastos, além de melhoria no nível de serviço.
Outros destaques são a expectativa de crescimento na Camicado, após uma limpa no parque de lojas, com eliminação das não muito rentáveis – houve fechamento de 13 lojas no período
O crescimento esperado das vendas online também é significativo, passando de 29% das vendas em 2022 para 41% em 2025.
Um dos fatores que os analistas mais gostam, a margem bruta, deve passar de 51,4% em 2022 para 54-55% em 2025, nas projeções da empresa.
Minha recomendação
Após uma leitura criteriosa do resultado e das mensagens e perspectivas fornecidas pela companhia no Renner Day, reforço minha recomendação de compra para Lojas Renner (LREN3), com preço-alvo a R$ 27, um upside de 87% frente a cotação atual.
Chegamos ao Motivo 4 que eu tinha deixado para o final do relatório
Embora trimestres fracos e persistentes nunca sejam boas notícias, a Renner está negociando no menor múltiplo de preço sobre lucro (P/L) histórico estimado para 2023 de aproximadamente 12 vezes.
P P/L atual está como na crise de 2008, quando muitas empresas negociaram a preços que depois deram saudades para quem não aproveitou para comprar.
Dito isso, no preço atual, e considerando que a Renner sempre foi a campeã do setor no Brasil, mantenho minha recomendação inalterada em COMPRA.
Abraços
Cristiane Fensterseifer CNPI, CGA e consultora CVM
04/05/2023
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