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Foto do escritorCristiane Fensterseifer

O preço justo da ação está certo, o mercado é que está louco

Atualizado: 19 de jul. de 2022

Recentemente tenho observado um movimento grande desacreditando o que seriam os preços alvo calculado pelos analistas para as ações.


Pudera, com a hecatombe no mercado, preços alvo antigos de ações que caíram 90% agora indicam altas potenciais de 400% e parecem não fazer sentido – pelo menos à primeira vista.


Outro motivo para o descrédito está nas contínuas revisões destes preços alvo pelos analistas, que dão aquela sensação aos clientes de que o preço alvo segue a cotação das ações.


Na teoria, o preço das ações deveria convergir para o preço alvo, e não o contrário.

Antes de você jogar tudo para o alto. Deixa eu te falar uma coisa:


Quando a economia oscila mais que uma montanha russa, é de se esperar que o mesmo ocorra com os preços alvo das ações e eu explico:


Em três anos eu e você vimos e vivemos o inimaginável:


Eu vi, o petróleo ser vendido a menos que US$0 – isso mesmo, negativo – algo que nunca tinha ocorrido antes, para preços maiores que US$130.


Eu o país com uma das taxas de juros mais altas do mundo levar a Selic a 2%, para depois voltar a 13%, em meses.


Estamos falando de premissas que tem variado de forma extrema, por uma pandemia que não ocorria assim há 100 anos.


A injeção de dinheiro na economia para conter o impacto do “fique em casa” também nunca tinha ocorrido na história.


A última vez que vimos algo parecido, mas nem de longe na mesma proporção, foi na Segunda Guerra Mundial.


Ou seja, para a economia, a pandemia foi muito, mas muito pior que a maior guerra da modernidade.


Temos também a guerra da Ucrânia no meio do caminho e vivemos numa espécie de Guerra Fria 2.0, explodindo o preço das commodities.


Agora você vai entender porque a ação que podia valer R$50 agora tem o preço alvo reduzido para R$25.


A ferramenta mais poderosa para estimar o desempenho das ações e mais utilizado pelos analistas para calcular é o Valuation via fluxo de caixa descontado.


Calma, não vá embora, prometo que este teto não vai ficar insuportável e técnico.


O Valuation, não é magia, é matemática.


Ele não é só usado para calcular quanto podem valer as ações.


Eu mesma já o utilizei para fazer para modelagem financeira de concessões, cálculos de fusões e aquisições (M&A), calcular quanto a empresa compradora pagará e por quando a empresa vendedora pode pedir por seu negócio e para medir o valor de retorno de um projeto.


O preço alvo que ele “cospe” é resultado das premissas imputadas em uma planilha para projetar o que seria o futuro daquela empresa.


Estimamos o caixa que a empresa pode gerar no futuro e precisamos estimar quanto estes ganhos futuros representam hoje, e aí entra a taxa de desconto, para fazer esta tarefa.

Se minhas premissas variam de um petróleo negativo a um impagável.


Se minha taxa de desconto varia do Brasil decolando para o Brasil se espatifando no chão, é natural que o preço justo calculado para as ações varie também.


Se os fatos mudam, eu mudo.


Se as premissas mudam, o preço das ações muda.


Mas calma, o cenário que mudou para mal, tende a melhorar.


A tendencia, afinal, é que voltar para as médias, ainda mais num mercado cíclico. Mas isso é tema para nosso próximo artigo.


A mensagem hoje é:


Antes de julgar a ferramenta – Valuation, preço alvo – considere o cenário.


O cenário teve mudanças extremas, e a ferramenta só reflete isso.



Abraços,

Cristiane Fensterseifer


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